OS
TRÊS TEMPOS DA SALVAÇÃO
Salvação é
um termo muito amplo. C. I. Scofield, no seu comentário sobre Rom. 1:16, diz
muito aptamente: “As palavras hebraicas e gregas para salvação implicam as
idéias de livramento, segurança, conservação, cura e santidade”. Salvação é a
grande palavra inclusiva do Evangelho, reunindo em si todos os atos e processos
redentivos: como justificação, redenção, graça, propiciação, imputação, perdão,
santificação e glorificação.
Salvação,
portanto, no seu sentido lato, tem que ver tanto com a alma como com o corpo,
com a vida presente bem como com a futura. Ela faz referência não só à remissão
da penalidade do pecado e à remoção de sua culpa, mas também à conquista do
hábito do pecado e a remoção final da presença do pecado no corpo. É só pelo
reconhecimento disto que alguém pode agarrar o alcance completo da doutrina
bíblica de salvação. E é só por se poder classificar cada passagem que trata da
salvação na base dos fatos precedentes que alguém pode evitar a confusão na
mente do crente mediano. Podemos realizar este fim melhor notando que se fala
da salvação em três tempos e considerando cuidadosamente cada tempo. Todos os
três tempos estão rascunhadamente somados em 2 Cor. 1:10 “Que nos livrou
(passado) de uma tão grande morte e livra ainda (presente); em Quem confiamos
que ainda nos livrará (futuro)”.
I. O TEMPO
PASSADO DA SALVAÇÃO
Notai as
seguintes passagens:
“A tua fé te
salvou” (Lc. 7:50). “Pela graça fostes salvos por meio da fé” (Ef. 2:8). “...
que nos salvou e chamou com uma santa vocação” (2 Tim. 1:9). “... salvou-nos
segundo Sua misericórdia” (Tito 3:5).
Toda estas
passagens e muitas outras como elas falam da salvação como uma obra terminada
no passado. Este tempo de salvação coincide com a santificação passada do
crente, como considerada no capítulo anterior. Ela tem que ver (1) com a alma;
(2) com a remissão da penalidade do pecado, a remoção da culpa e mesmo a
remoção da presença do pecado da alma.
Neste sentido
a salvação do crente está completa. Como dissemos da justificação, assim
podemos dizer deste tempo da salvação: é um ato e não um processo: ocorre e se
completa no momento em que o indivíduo crê; não admite graus nem estágios.
É sob este
tempo de salvação que devemos classificar as passagens que falam do crente como
possuindo vida eterna agora. Vide João 5:24, 6:47, 17:2,3; 1 João 3:13,
5:11,13. Isto quer dizer, simplesmente, como expresso em João 5:24, que o
crente passou de sob todo perigo de condenação e do poder da segunda morte.
II. O TEMPO
PRESENTE DA SALVAÇÃO
“A palavra
da cruz é loucura para os que se perdem; mas, para nós que estamos salvos
(marg., estamos sendo salvos) é o poder de Deus” (1 Cor. 1:18).
O particípio
grego na passagem supra está no tempo presente e denota “aqueles sendo salvos,
o ato... estando em progresso, não completado” (E. P. Gould).
É com
referência ao tempo presente da salvação que Fil. 2:12 fala, quando diz:
“Operai a vossa própria salvação com temor e tremor.” O sentido desta passagem
é que os crentes filipenses tiveram de efetivar em suas vidas a nova vida que
Deus implantara nos seus corações .
Outras
passagens há nas quais a salvação não está mencionada , as quais, não
obstantes, referem o processo presente de salvação, tais como Rom. 6:14; Gal.
2:19,20; 2 Cor. 3:18.
No tempo
presente da salvação os crentes estão sendo salvos, através da obra do Espírito
morador, do hábito e domínio do pecado. A salvação é assim equivalente à
santificação progressiva: não tem que ver com a alma nem com o corpo, mas com a
vida.
III. O TEMPO
FUTURO DA SALVAÇÃO
Nas
passagens seguintes a salvação é falada como algo ainda futuro: Rom. 5:9,10,
8:24, 13:11; 1 Cor. 5:5; Efe. 1:13,14; 1 Tess. 5:8; Heb. 10:36; 1 Ped. 1:5; 1
João 3:2,3.
Em Rom. 8:23
Paulo nos fala do que é, em geral esta salvação futura. É a redenção de nosso
corpos”, o que ele quer dizer a aplicação da redenção ao corpo de crente. Isto
terá logar na ressurreição dos que dormem em Cristo (1 Cor. 15:52-56; 1 Tess.
4:16) e no rapto dos que estiverem vivos na vinda de Cristo no ar (1 Tes.
4:17). É só então que o espírito regenerado entrará em completa fruição da
salvação. Assim lemos que o espírito é para ser salvo “no dia do Senhor Jesus”
(1 Cor. 5:5). Este tempo de salvação tem que ver principalmente com o corpo e a
presença do pecado no corpo.
É sob esta
epígrafe que devemos classificar todas as passagens que tratam da vida eterna
como de alguma coisa que o crente receberá no futuro. Vide Mat. 25:46; Mar.
10:30; Tito 1:2, 3:7.
Temos assim
a bela harmonia que existe entre todas as passagens que tocam o assunto da
salvação. Não há conflito entre estas passagens, porque elas se referem a
diferentes fases da salvação. Absurdo é e herético qualquer homem tirar um
grupo das três, não importa que grupo ele tire, e procurar negar ou nulificar
um ou outro, ou ambos, dos dois grupos restantes. O modo da verdade é tomar
todos eles corretamente divididos.
Seja
observado ao encerrar que a salvação em todos os seus tempos e fases é do
Senhor. Paulo dá-nos o método de Deus no trabalho da salvação, do princípio ao
fim em Fil. 1:6 e 2:13. Deus inicia a obra da salvação e a levará até sua
consumação. E por toda a caminhada Ele opera em nós “tanto o querer como o
fazer Seu bom prazer”. E mais, é tudo de graça pela fé. “Porque nEle se revela
a justiça de Deus de fé em fé; como está escrito: O justo viverá pela fé.” (Rom. 1:17).
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